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O saltador em altura I

Entrando no mundo do Atletismo

Tudo começou na Escola Técnica Sá da Bandeira. Tinha como colega o Juca, o mesmo que anos mais tarde tornou-se um grande futebolista e Selecionador Nacional de Futebol em Portugal. Naqueles tempos era o menino bonito cobiçado pelas raparigas...

Estava o Juca a treinar-se para representar a Escola, no salto em altura dos campeonatos da mocidade portuguesa e derrubou a fasquia.

Virei-me para os meus colegas Rafael Campos e para o Jerónimo e disse-lhes que ultrapassaria aquela fasquia. O Rafael, no gozo, gritou para o Juca e disse-lhe que o Revez propunha-se a saltar aquela altura "com uma perna às costas". O Juca convidou-me para saltar e ultrapassei a fasquia e tornei-me assim o representante da Escola.

Nesses campeonatos não só ganhei como tornei-me também recordista.

O treinador do Sporting Clube Lourenço Marques, o Dr António Araújo, convidou-me para representar o clube. Aceitei prontamente, até porque era adepto do Sporting. Foi assim o meu começo no atletismo.

Eu no salto em altura

Enquanto fui atleta aconteceu-me um pouco de tudo. Situações engraçadas e outras desagradáveis. Por exemplo, não demorou muito tempo a perceber que, infelizmente na prática de atletismo, no Moçambique daqueles anos, para se ser campeão, não bastava treinar mais e melhor ou se ter "nascido para o atletismo". Era também importante a isenção dos juízes e cronometradores das competições, e o mais importante, a vontade de todas as partes em contribuir para uma prática saudável e isenta de influências.

Lembro-me por exemplo, de um excelente saltador em comprimento e triplista, o Alfredo Lima, que via os seus saltos a serem invalidados enquanto à distância qualquer um via que nem de perto nem de longe ele não tinha pisado a faixa vermelha.

Eu próprio também tive as minhas doses de peripécias com o salto em altura...julgava eu que era apenas "passei a fasquia, ela não caiu, não há maneira de o juiz dizer que 'pisei' como fazem com o Alfredo". Nem pensar. O salto era considerado nulo por ter passado a fasquia primeiro com a cabeça, o que, naqueles anos era ilegal. Mas era totalmente falso, pois tinha muito cuidado e sabia perfeitamente que tinha passado correctamente. Aproveitaram-se, já que não havia maneira de provar o contrário, para que não alcança-se uma boa classificação ou a melhoria do recorde.

Uma vez em representação do SCLM, fui a Durban participar num Torneio. Nessa competição saltei em jardas, o correspondente ao recorde de Moçambique com o sistema métrico.O recorde não foi homologado porque a "Associação não não soube converter jardas e polegadas em metros e centímetros"(!). A mesma Associação anteriormente, já não me tinha homologado uma excelente marca (1,83 m) efetuada em Brackpan porque "não havia documento oficial" apesar de ter sido um próprio membro da Associação a trazer os resultados oficiais para Lourenço Marques...Obviamente que naquela altura a minha confiança nas instituições desportivas não era propriamente muito alta, e questionava se o motivo era incompetência ou interesses instalados para prejudicar o clube que representava.

Na praia, em Durban, com o Ramalhete e o Branquinho

Eu e o Ramalhete em Durban na praia em boa companhia de "bifas"

Em Durban com o Sequeira Afonso

Em Durban com o Ramalhete

Porém, as marcas que efectuei tiveram direito a inquérito: questionaram-me o motivo porque fiz as melhores na África do Sul.

Desde júnior tinha já uma boa técnica: rodava sobre a fasquia e caia de costas.Porém, os saltos eram feitos para a areia...uma vez quase desisti da prática porque caí mal e fiquei sem respiração e passei uns tempos na dúvida se poderia voltar a saltar ou não. Tomei a decisão de continuar mas fiquei mais preocupado com a queda (tentava cair o mais em pé possível) e não com a técnica de rodar sobre a fasquia. Nas competições na Àfrica dos Sul os saltos eram feitos para colchões bem mais confortáveis do que cair na areia, e aí apliquei a técnica correta, caíndo de costas, o que me permitiu ultrapassar fasquias superiores.

O desporto está sempre rodeado de surpresas, muitas delas agradáveis e outras desagradáveis, em que várias vezes as "desgraças de uns são a felicidade dos outros". O Desportivo, o clube rival do Sporting, tinha 5 bons barreiristas: José Crisóstomo, José Bento, Luis Nunes e os irmãos Fernando e Mário Lage. Normalmente ficava uma pista vaga, e o meu treinador mandou-me, como habitualmente,participar na prova para caçar pelo menos 1 ponto na competição, pois nas barreiras eu levava sempre "bigodes" principalmente do Crisóstomo Ferreira e do José Bento. Nessa competição acreditei que poderia ir buscar mais do que 1 ponto e empenhei-me...lá aconteceu mas inesperadamente: o Luis Nunes tropeçou numa barreira, e com isso fez derrubar os irmãos Lage e consegui o 3º lugar...O Sporting acabou por ganhar o campeonato à custa de pontos inesperados graças à minha excelente prova e quase fui considerado um herói...

(continua)


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